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Olhares perdidos de ternura

Acordo com um sorriso de quem adormeceu feliz.

Na minha rotina entro na carruagem, pego no telemóvel e ponho a playlist a tocar. Mas o telemóvel resolveu contrariar a minha vontade e reiniciou…

Neste entretanto, reparo num senhor sentado do outro lado, duas filas à frente.

Cerca de 80 anos, cabelo grisalho, rosto virado para a janela.
Nem mesmo o pó que se via no vidro impediu o reflexo daquele olhar, que me tocou de imediato.
Uma alma perdida, machucada. Tão amarrotada quanto a sua camisa.

Caramba! Aquele olhar!… um olhar de saudade.
Saudade de quem já não está.
Saudade do que viveu, do bom que ficou na memória, cravado no seu coração.

Gerir estas recordações, nem sempre é fácil.
São os nossos amores. Incondicionais ou não, mas os nossos amores.

Nem sempre é fácil.
Mesmo que tentemos substituir por outros bons momentos, os atuais…
Tu vais lembrar-te sempre.
Vai ‘bater’ aquela saudade.
Pensar que podias ter dito tanta coisa. Feito tanto.
Mas o coração mantém-se vivo.

Continua batendo tanto quanto a saudade.

E a vida, essa, segue também.
Mesmo que com a saudade…

a que te faz brilhar os olhos de emoção e também sorrir de ternura.

E foi essa a última imagem que vi.
Foi com essa imagem que sai da carruagem.
É com essa ternura que me vou deitar hoje, feliz.

Um sorriso daquele homem de cabelo grisalho,
que no meio do pó descobriu recordações de uma vida.

(hoje este texto é dedicado às minha “meninas” Ana e Manuela que sei, vão entender cada palavra)

Ana Paula Ribeiro

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