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Uma reflexão que, espero, te sensibilize.

2 anos passaram rápido. 

Nestes 2 anos tenho aprendido muito. A cada dia que passa sou sensibilizada com questões que outrora não me ocorriam, mas que me deixam perplexa. Como, algumas delas, nunca me passaram pela cabeça? Eu, que sempre fui muito de pensar na outra pessoa, naquilo que está a sentir. Ou pelo menos dou por mim a tentar, antes de tomar qualquer tipo de atitude ou julgamento.

Não sou melhor pessoa que os outros, apenas sou, e quem me conhece sabe bem, uma pessoa que vive do que o coração lhe dita, afogada em sentimentos. E hoje o meu está com a pica toda para partilhar convosco esta reflexão. Vá lá, não se queixem que eu que não escrevo há muito tempo. 

Muito se tem falado da liberdade que tínhamos e que o Covid-19 nos roubou. 

O direito à nossa liberdade. 

Direitos.

Já pararam para pensar nos direitos das pessoas que têm uma deficiência?

Cada vez mais acredito que esses direitos dependem muito de todos nós. 

A forma como nos posicionamos perante a deficiência faz toda a diferença!

Não é nenhum bicho papão.

Não é nenhum rol de lamúrias.

Uma pessoa com deficiência não é nenhum coitadinho!

A diferença não está naquela pessoa. A diferença está na forma como todos nos posicionamos perante a sua deficiência. 

Não somos todos nós diferentes uns dos outros?

Por outro lado, cada um de nós pode, sim, fazer a diferença nas pequenas coisas do dia a dia. Alertar quando vemos alguma coisa que não está correta. Sensibilizar os nossos filhos, familiares, os nossos amigos, os nossos colegas, promover mudanças no nosso local de trabalho, até no café do lado! Mudarmos a nossa atitude, a forma como nos relacionamos com os outros. 

Sensibilizar quem não se conhece. Perguntar a quem sabe.

Reparem só nestes pequenos (grandes) exemplos. São apenas alguns, pois existem tantos. 

- Equipamentos eletrónicos cada vez mais com um desenho moderno, que funcionam apenas com o toque digital, mas não são acessíveis às pessoas cegas. Se têm daqueles micro-ondas com painel digital, experimentem fechar os olhos e por a sopinha a aquecer.

- Anúncios que apenas têm imagens a correr e uma voz fazer a divulgação do produto, ou muitas vezes nem têm voz nenhuma, só as imagens a passar, sem legendagem, interpretação em Língua Gestual e audiodescrição. Façam este exercício. Procurem um vídeo destes, sentem-se em frente à televisão e tirem o som ou fechem os olhos. Agora ponham o vídeo a dar. 

- Assiste a um documentário, a um dos vários debates (muitos na televisão pública, paga por todos!) e tira-lhe o som.

- Da próxima vez que fores dar uma passeio na rua, repara na quantidade de carros que está estacionado em cima do passeio, ou na berma do passeio elevada onde termina a passadeira, ou até mesmo a estrada que foi alcatroada (‘alisada’), mas que deixaram na zona da passadeira, aquele pavimento antigo irregular, que fica tão lindo porque destaca a zona de passagem do peão, mas que para quem anda numa cadeira de rodas não é de todo fácil percorrer!

- Experimenta sentares-te numa cadeira em frente a alguns multibancos. Consegues chegar aos botões ou ver alguma coisa no monitor? Sem falar naqueles que estão numa espécie de degrau que a tua cadeira não cabe sequer no espaço do passeio.

- Sabes aqueles terminais pagamento todos lindinhos sem teclas, apenas funcionam com um toque no ecrã digital, que nos dão no restaurante, ou em qualquer loja, para pagar a nossa conta? No momento em que fores pagar, fecha os olhos. Pois é… consegues por o teu pin? Confirmas o valor que está a pagamento?

- Fecha os olhos e espera para atravessar a rua na passadeira, quando o sinal dos peões estiver verde. Os sinais luminosos têm um sinal sonoro que te indica que está na altura certa para o fazeres?

- Tapa os ouvidos e imagina-te na tua sala de trabalho, sozinho, enquanto dá o toque de uma sirene que indica que há fogo, ou perigo que todos tenham que sair do prédio. Tens um sinal luminoso na sala que te indica que ocorre algum perigo?

- As imagens que são partilhadas nas redes sociais que não são descritas ou não têm o texto alternativo. Sabias que o Facebook e a maioria das redes sociais permitem que ponhas um texto alternativo em cada imagem que partilhas? Se o escreveres, um texto que explique em poucas palavras o que está na imagem, os leitores de ecrã que as pessoas cegas utilizam podem informar a essas pessoas o que está na imagem.

- Os textos que lemos por aí, em vários suportes, e que muitas vezes são tão complicados de compreender por todos e que poderiam ser escritos de forma mais simples, ou, para quem o sabe fazer, acompanhados de símbolos que transformam aquele texto compreensível (pictogramas). 

- Sabias que nos bancos a informação de contratualização dos serviços, que é dada a uma pessoa cega para ler antes de assinar não é acessível? Não há em braille ou suporte digital. É o próprio que, para salvaguardar o processo para ambas as partes, tem que ir a um notário, validar a informação que lá consta e assinar o documento e, claro, pagar pelo serviço que é caro? 

Todos estes são exemplos de falta de acessibilidade à informação e da falta de liberdade e independência que isto acarreta para as pessoas com deficiência. 

Eu, na minha pequenez, tento ir fazendo o que é certo. Em pequeninas coisas. 

Já me perguntaram porque faço uma descrição das fotos que partilho se elas estão ali à mostra. Ou, quem sabe que existe o texto alternativo, porque descrevo na partilha e não apenas no menu do texto alternativo, já que é só para o ecrã de leitor das pessoas cegas ler. Faço-o diretamente na partilha de propósito. Para que as pessoas se sintam sensibilizadas e motivadas. Não sei se mudo alguma coisa, mas se mudar uma cabeça que seja, é um passinho.

E cada passinho que se dá conta. 

Parece pouco mas conta muito porque caminha-se para o que é correto. O direito de todos. 

E se pensares bem, se fores daquelas pessoas que estás a borrifar-te para o que os outros pensam ou precisam, não te esqueças que nenhum de nós está livre de um dia mais tarde, precisar de acessos, equipamentos, informação acessíveis.  Não sabes o teu futuro ou o daqueles que te são queridos. A perda de audição, por exemplo, é muito comum com o avançar da idade e se não tens legendas no teu programa favorito, nunca saberás o que está a ser dito. 

Já me alonguei muito, mas há tanto para refletir e aprendermos… espero que cheguem ao fim do texto e que pelo menos alguns de vós se sintam sensibilizados. 

Pensem nisto, direito à liberdade… não é só o covid-19 que a tira.

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