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Passageiros que nos fazem falta

Hoje vim durante a viagem no metro sem dar pelas pessoas à volta, sem observar as histórias que contam os seus olhos.

Vieram os meus a contar várias com certeza, entre uma lágrima ou outra que caiu, sem que eu conseguisse conter.

Ainda estou a recuperar de um misto de emoções que ontem vieram fazer-me uma visita e que teimam em instalar-se ainda por cá e me levam a escrever esta nota.

Partilhei emoções com alguém que perdeu a sua mãe e que por vários motivos me recordaram pessoas que foram minhas pessoas e que perdi há anos.

Não é fácil gerir o fim da viagem daqueles que aprendemos a amar. Daqueles que nos ensinam tanto e nos fazem crescer.

Hoje, dizem, é dia dos avós. Seria o dia deles.

Tenho a sorte de os meus filhos terem os meus pais vivos e poderem ainda disfrutar dos avós.

Eu pouco ou nada convivi com os meus.

Sinto pena, mas do fundo do coração, o sentimento nunca poderá ser tão forte quanto a dor pela ausência daqueles que foram meus segundos pais.

Perde-los foi a maior dor que senti até hoje e ontem foi mesmo insuportável recorda-la.
As pessoas não deveriam sofrer tanto quando chegam ao fim da viagem. Deveriam poder sair da carruagem em paz e tranquilas.

Cheguei à estação onde saio todos os dias para o trabalho e fui obrigada a voltar à realidade.

Mas das memórias que me assolaram ontem e dos momentos que vivi depois tomei consciência mais uma vez de que a vida é mesmo uma viagem.

Devemos faze-la da melhor maneira que sabemos e aproveitar o bom que ela nos trás.

Ela nos leva passageiros que para sempre nos farão falta, mas traz-nos outros que nos dão tudo aquilo que precisamos.

São estas as nossas pessoas. As que devemos cuidar e preservar. As que realmente importam.

Aquelas com as quais devemos partilhar os nossos silêncios.

Tu.



Ana Paula Ribeiro 

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