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A linha da vida. A estação de saída.

Viajo há 44 anos.

Nasci em Angola, em casa, a carruagem onde os meus pais viviam na altura com o meu mano.
Sentiam a ansiedade de quem vai receber um novo passageiro.
O meu mano, com 9 anos, ouviu o choro e pensou ser uma galinha!
Ainda hoje o meu pai conta este episódio e me faz sorrir.

Nesta viagem que faço há tantos anos, passei já por tantas estações...
Umas fisicamente,
outras em pensamento.

Vivi já tantas emoções...
Umas boas,
outras menos boas.
Sejam de que tipo for,
das que arranham a alma e nos fazem sentir vivos.

Quando fazes a viagem da tua vida, as estações vão passando e tu, porque precisas não perder o ritmo desta vida louca, decides rapidamente se sais nesta ou naquela.
Muitas vezes nem dás pela decisão.
Apenas sais e quando dás por ti é seguir caminho e fazer dele o melhor que sabes e podes naquele momento.

E entras noutra... e segues caminho.

Às vezes, sentes mesmo que não estás na carruagem certa, mas a luz escura que vem do túnel assusta.
O desconhecido e a incerteza são bilhetes inválidos para quem precisa de coragem para avançar, passar a cancela... mas tem medo.

De repente... aquele momento.

Sentes-te a aproximar de uma estação que em tudo te leva a ter certezas.

Te acorda.
Te dá esperança.
Te conforta.
Te tranquiliza.
Te enche o peito.
Te faz vibrar.

As portas abrem...
É nesse momento que apareces tu.

À minha espera.
De sorriso desconcertante.
Olhar que me faz sentir certezas.

Cheguei!

Tenho 44 anos.

Fartei-me já de viajar por tantas estações nesta linha da vida.
E penso, é mesmo nesta estação que quero sair!

Não.
Penso melhor. Não vou sair

Não é medo...

convido-te a entrar e a fazer o resto da minha viagem comigo...


Ana Paula Ribeiro 

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